História
Definição
Etiologia
Diagnóstico
Descrição Clínica
ComportamentoTratamento
História
do autismo
O termo autismo vem do grego “autós” que significa “de si
mesmo”.
Em 1906, Plouller introduziu o termo autista na literatura psiquiátrica. Mas foi Bleuler, em 1911, o
primeiro a difundir o termo autismo, referiu-se ao quadro de esquizofrenia, que consiste na limitação nas relações humanas.
Em 1943, o
psiquiatra americano Leo Kanner
descreveu um grupo de onze casos
clínicos de crianças na sua publicação intitulada “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (Autistic Disturbances
of Affective Contact).
As crianças investigadas por Kanner apresentavam inabilidade para se relacionarem com outras
pessoas (extremo isolamento), falha
no uso da linguagem para a comunicação e desejo obsessivo ansioso
para a manutenção da “mesmice”.
Segundo Kanner, o autismo era causado por pais altamente
intelectualizados, pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas
relações humanas da criança.
Em 1944, o
pediatra austríaco Hans Asperger, em
Viena, descreveu crianças que tinham
dificuldades de integrar-se socialmente em grupos, denominando esta condição de
“Psicopatia Autística” para
transmitir a natureza estável do transtorno. Estas crianças exibiam um prejuízo
social demarcado, e assemelhava-se com as descritas por Kanner, porém mantinham a linguagem
bem preservada e pareciam mais inteligentes. Entretanto, Asperger acreditava que elas eram
diferentes das crianças com autismo na medida em que não eram tão perturbadas,
demonstravam capacidades especiais, desenvolviam fala altamente gramatical,
numa idade precoce, não apresentavam sintomas antes do terceiro ano de vida e
tinham um bom prognóstico.
A publicação de Kanner ficou conhecida, enquanto que o
artigo de Asperger, escrito em alemão, só foi transcrito para o inglês por
Lorna Wing, em 1981.
O transtorno de
Asperger diferencia-se do autismo essencialmente
pelo fato de que não é acompanhado por retardo
ou deficiência na linguagem ou no desenvolvimento cognitivo.
A diferença fundamental entre um indivíduo com autismo de alto funcionamento e um
indivíduo com transtorno de Asperger
é que o indivíduo com autismo possui
um QI executivo maior que o verbal e
apresenta um atraso na aquisição da linguagem. Na prática clínica, a
distinção fará pouca diferença, porque o tratamento e as intervenções dirigidas
são semelhantes.
É relevante salientar que algumas das especulações da
publicação original de Kanner, como
a frieza afetiva dos familiares (particularmente a da mãe), da inteligência das
crianças ser normal e de não haver presença de co-morbidade, com o tempo
revelaram estar incorretas.
Com a evolução das pesquisas científicas, concluiu-se que o
autismo não é um distúrbio do contato
afetivo, mas sim um distúrbio do desenvolvimento.
Em 1976, Lorna Wing
relatou que os indivíduos com autismo apresentam défices específicos em três
áreas: imaginação, socialização e
comunicação, o que ficou conhecido como “Tríade de Wing”.
O autismo é um transtorno definido por alterações presentes
antes dos três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas
na comunicação, na interação social e no uso da imaginação, como de seguida
iremos abordar mais pormenorizadamente.
Definição
de Autismo
DEFINIÇÃO DA AUTISM SOCIETY OF AMERICAN – ASA (1978)
(Autism Society of American = Associação Americana de Autismo)
(Autism Society of American = Associação Americana de Autismo)
O autismo é uma inadequação no desenvolvimento que se manifesta
de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos
três primeiros anos de vida. Acometem cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo
masculino do que no feminino. É
encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial,
étnica e social. Não se conseguiu até
agora provar qualquer causa psicológica no meio ambiente destas crianças, que
possa causar a doença.
Segundo a ASA, os sintomas são causados por disfunções
físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou presentes no exame ou
entrevista com o indivíduo. Incluem:
1. Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades
físicas, sociais e linguísticas.
2. Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais
afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, paladar e a
postura corporal.
3. Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas
específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita
compreensão de idéias. Uso de palavras sem associação com o significado.
4. Relacionamento anormal com os objetos, eventos e
pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos
não são usados de maneira própria.
Fonte: Gauderer, E. Christian. Autismo e outros
atrasos do desenvolvimento: guia prático para pais e profissionais. Rio de
Janeiro: Revinter; 1997. pg 3.
DEFINIÇÃO DO DSM-IV-TR (2002)
O Transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento
comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e
um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do
transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da
idade cronológica do indivíduo.
DEFINIÇÃO DA CID-10 (2000)
Autismo infantil: Transtorno global do desenvolvimento
caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes
da idade de três anos, e b) apresenta uma perturbação característica do funcionamento
em cada um dos três seguintes domínios: interações sociais, comunicação,
comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno é acompanhado
normalmente por numerosas outras manifestações inespecíficas, como por exemplo:
fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou
agressividade (auto-agressividade).
A etiologia do autismo ainda não foi definida.
Não existe uma etiologia básica fundamental para todos os
casos de autismo.
Os estudos demonstram, indiscutivelmente, que os fatores
biológicos estão implicados na etiologia do transtorno autista, embora não
tenha sido ainda identificado um marcador biológico específico, assim como os
fatores genéticos têm uma importância substancial na etiologia do autismo.
Atualmente, sabe-se que o autismo não pode ser causado por
fatores emocionais e/ou psicológicos.
Estudos sugerem também, que não existe nenhum alteração
física no Sistema Nervoso Central que esteja diretamente relacionado com a
etiologia do autismo.
As diversas linhas de investigação sugerem que
determinantes ambientais também desempenham um papel na origem do autismo.
Como vemos então as evidências apontam para a existência de
uma etiologia multifatorial, que dificulta a abordagem e compreensão do
autismo.
Diagnóstico
diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce do autismo permite a indicação
antecipada de tratamento. Os atendimentos precoces e intensivos podem fazer uma
diferença importante no prognóstico do autismo.
A demora no processo de diagnóstico e aceitação torna-se
prejudicial ao tratamento, uma vez que a identificação precoce deste transtorno
global do desenvolvimento permite um encaminhamento adequado e influencia
significativamente a evolução da criança.
Os sistemas diagnósticos (DSM-IV e CID-10) têm baseado os
seus critérios em problemas apresentados em três áreas, com início antes dos
três anos de idade, que são:
a) comprometimento na interação social;
b) comprometimento na comunicação verbal e não-verbal, e no
“brincar imaginativo”;
c) comportamento e interesses restritos e repetitivos.
É relevante salientar que estas informações devem ser
utilizadas apenas como referência. Nunca se deve rotular uma criança,
impondo-lhe todas as limitações desse “rotulo”, sem antes se comprovar a
afecção de um modo fundamentado.
OrientaçÕES para a
elaboração do Diagnóstico
Recomenda-se:
·
Caracterizar a queixa da família: sinais, sintomas,
comportamento, nível de desenvolvimento cognitivo e escolar do indivíduo -
quando for o caso, relacionamento interpessoal;
·
Investigar os antecedentes gineco-obstétricos, história médica
pregressa, história familiar de doenças neurológicas, psiquiátricas ou
genéticas;
·
Analisar os critérios do DSM-IV-TR ou da CID-10;
·
Realizar avaliações complementares (investigações bioquímicas,
genéticas, neurológicas, psicológicas, pedagógicas, fonoaudiológicas,
fisioterapêuticas);
·
Pensar a respeito do diagnóstico diferencial;
·
Investigar a presença de co-morbidades,
·
Classificar o transtorno, planear e efetivar o tratamento.
Muitas vezes, o autismo é confundido com outras síndromes
ou com outros transtornos globais do desenvolvimento, pelo fato de não ser
diagnosticado através de exames laboratoriais ou de imagem, ou por não haver
marcador biológico que o caracterize, nem necessariamente sinais morfológicos
específicos; o processo de reconhecimento do autismo é dificultado, o que
dificulta a sua identificação e respectivo diagnóstico precoce.
Um diagnóstico preciso deve ser realizado, por um
profissional qualificado baseado no comportamento, anamnese e observação
clínica do indivíduo.
O autismo pode ocorrer isoladamente, ser secundário ou
apresentar condições associadas, razão pela qual é extremamente importante a
identificação de co-morbidades bioquímicas, genéticas, neurológicas,
psiquiátricas, entre outras.
Diagnóstico
Diferencial
Períodos de regressão podem ser observados no
desenvolvimento normal, porém estes não são tão graves nem tão prolongados como
no transtorno autista, e por isso devem ser diferenciados de outros transtornos
globais do desenvolvimento. Entre eles destacam-se:
·
Transtorno de Rett
·
Transtorno Desintegrativo da Infância
·
Transtorno de Asperger
·
Esquizofrenia com início na Infância
·
Mutismo Seletivo
·
Transtorno da Linguagem Expressiva
·
Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expressiva
·
Transtorno de Movimentos Estereotipados
·
Retardo Mental
Descrição
Clinica
SINTOMAS DO INDIVÍDUO COM AUTISMO
Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com
autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a
seguir:
1. Dificuldade de relacionamento com outras crianças;
2. Riso inapropriado;
3. Pouco ou nenhum contato visual;
4. Aparente insensibilidade à dor;
5. Preferência pela solidão;
6. Rotação de objetos;
7. Inapropriada fixação em objetos;
8. Perceptível hiper-atividade ou extrema inatividade;
9. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino;
10. Insistência em repetição, resistência à mudança de
rotina;
11. Não tem medo do perigo real (consciência de situações
que envolvam perigo);
12. Comportamento com poses bizarras (fixar objeto ficando
de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta);
13. Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da
linguagem normal)
14. Recusa colo ou afagos
15. Age como se estivesse surdo
16. Dificuldade em expressar necessidades - usa gesticular
e apontar no lugar de palavras
17. Acessos de raiva - demonstram extrema aflição sem razão
aparente
18. Irregular habilidade motora - pode não querer chutar
uma bola, mas pode arrumar blocos.
OBS: É relevante
salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes
sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida
da criança. Estes variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para
sintoma. Adicionalmente, as alterações dos sintomas ocorrem em diferentes
situações e são inapropriadas para sua idade.
Uma em cada 110 pessoas é autista. Para a ciência, as causas ainda são um
mistério, mas pior que o desconhecimento sobre a origem é a falta de
informação. No Brasil, muitas pessoas acreditam que o autismo significa uma
criança sem expectativa de desenvolvimento e sem capacidade de interação
social.
O senador Paulo Paim (PT-RS)
tem contribuído para que uma Lei Federal-
PL-1631/2011 seja votada em breve pelo Congresso Nacional. Precisamos
despertar na sociedade a importância de se informar sobre o autismo, diminuindo
o preconceito e, mais que isso, para que a população, a iniciativa privada e
principalmente as autoridades governamentais, possam abrir os olhos para os
quase 2 milhões de autistas que existem no Brasil.
Conheça
como essa síndrome age no organismo das pessoas com autismo:
Problemas
Associados ao Autismo
CONDIÇÕES QUE PODEM ESTAR ASSOCIADAS AO
AUTISMO:
·
Acessos de raiva;
·
Agitação;
·
Agressividade;
·
Auto-agressão, autolesão (bater na cabeça, morder os dedos);
·
Ausência de medo em resposta a perigos reais;
·
Catatonia;
·
Complicações pré,
peri e pós-natais;
·
Comportamentos autodestrutivos;
·
Defecais de atenção;
·
Défices auditivos;
·
Defecais na percepção e coordenação motoras;
·
Défices visuais;
·
Epilepsia (Síndrome de
West);
·
Esquizofrenia;
·
Hidrocefalia;
·
Hiperactividade;
·
Impulsividade;
·
Irritabilidade;
·
Macrocefalia;
·
Microcefalia;
·
Mutismo seletivo;
·
Paralisia cerebral;
·
Respostas alteradas a estímulos sensoriais (alto limiar
doloroso, hipersensibilidade aos sons ou ao toque, reações exageradas à luz ou
a odores, fascinação com certos estímulos);
·
Retardo mental;
·
Temor excessivo em resposta a objetos inofensivos;
·
Transtornos de alimentação (limitação a comer poucos alimentos);
·
Transtornos de ansiedade;
·
Transtornos de linguagem;
·
Transtorno de movimento estereotipado;
·
Transtornos de tique;
·
Transtornos do humor / afetivos (riso ou choro imotivados,
aparente ausência de reação emocional);
·
Transtornos do sono (despertares noturnos com balanço do corpo).
Tratamento
do Autismo
INTERVENÇÂO TERAPÊUTICA
O quadro de autismo não é
estático, alguns sintomas modificam-se, outros podem amenizar-se e vir a
desaparecer, porém outras características poderão surgir com a evolução do
indivíduo. Portanto aconselham-se avaliações sistemáticas e periódicas.
É fundamental o investimento
na pessoa com autismo, toda a intervenção produzirá benefícios significativos e
duradouros.
A gravidade do autismo oscila
bastante, porque as causas, não sendo as mesmas, podem produzir significativas
diferenças individuais no quadro clínico.
O transtorno autista é
permanente, até o momento presente, não tem cura, não existe medicação, nem
tratamento específicos para o transtorno autista.
O tratamento que se considera
mais adequado é baseado na consideração das co-morbilidades para a realização
de atendimento apropriado em função das características particulares do
indivíduo.
O envolvimento da família é
essencial para a intervenção terapêutica na criança autista. O tratamento
deverá ser realizado através da atuação de uma equipa multidisciplinar que
inclua no tratamento uma vertente tanto médica como a não-médica diferentes
áreas de atuação (pediatria, neurologia, psiquiatria e odontologia, psicologia,
fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional, fisioterapia e orientação
familiar), auxiliando a criança a uma inclusão social mais facilitada uma vez
que a intervenção apropriada resulta em considerável melhoria do prognóstico.
A farmacoterapia continua a
ser a componente mais importante num programa de tratamento, porém nem todos
indivíduos necessitarão de utilizar uma terapêutica medicamentosa.
O sucesso do tratamento
depende exclusivamente do empenho e qualificação dos profissionais que se
dedicam ao atendimento destes indivíduos. Os indivíduos com autismo têm uma
expectativa de longevidade normal.
As crianças autistas
revelam grandes dificuldades na aprendizagem e integração no ambiente escolar.
É, portanto, importante promover a compreensão destas crianças, para que se
adapte o meio onde elas se inserem e se adequem métodos e estratégias
educativas. Através da intervenção junto dos pais e professores que convivem
com crianças autistas será possível reduzir as dúvidas em relação a estas
crianças, dúvidas estas que muitas vezes são causadoras de maus juízos e/ou
rotulamentos, levando a um conseqüente fraco investimento nelas. Com a partilha
desta informação, procuramos então fomentar uma maior qualidade de vida a estas
crianças com necessidades especiais, tantas vezes incompreendidas e
negligenciadas. Procuramos essencialmente promover conhecimentos sobre o
autismo e as crianças que apresentam este distúrbio. Através da assimilação de
conhecimentos, poderá haver uma alteração de comportamentos, por parte da
sociedade em geral, que será benéfica para o desenvolvimento desta criança com
autismo.
Criança Autista: Partilha para a comunidade
Maio/2011
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