Cuidar não é tarefa fácil, nem mesmo quando o fazemos por desejo ou opção, pois cuidar é permanecer em um estado de atenção permanente, e longos períodos neste estado de tensão podem ser geradores de stress e doenças.
Podemos imaginar que cuidar de um filho, um irmão um pai não é um trabalho e sim um prazer, porem se este ente querido adoece necessitando de maiores cuidados, tempo e dedicação, aumenta nossa tensão, e por um período permanecemos focados e atentos e após o restabelecimento, voltamos a nossa tensão natural.
Mas o que fazer quando escolhemos para nossas vidas o trabalho de cuidar?
Cada um pode e até mesmo deve em algum momento se perguntar o porquê e o para que de suas escolhas, pois alem de lidar com as questões do dia a dia, com as rotinas, temos de conviver com pressões, medos, ansiedades e frustrações freqüentes, que são inerentes ao trabalho de cuidar.
Para cuidar precisamos ter condições mínimas de saúde para oferecer para o outro algo que facilite a vida e traga mais conforto no dia a dia. Não falo só de saúde física, mas também de saúde mental, pois um cuidador que sofre de dores de cabeça freqüente ou dores nas costas terá dificuldade em oferecer atenção e cuidados a outra pessoa. Da mesma maneira uma pessoa depressiva, insone, ou ansiosa demais poderá encontrar barreiras significativas para desenvolver suas atividades.
Pensar em cuidar do cuidador é poder oferecer àquele que cuida instrumentos técnicos, teóricos, físicos e emocionais para desenvolver suas atividades de forma segura e eficiente. Instrumentalizar, apoiar e acolher o cuidador, é oferecer a pessoa que esta sendo cuidada a possibilidade de receber atendimento digno, respeitoso e responsável assegurando ter suas necessidades atendidas.
Ao cuidador cabe buscar recursos de formação continua, ( grupos de estudo, cursos, leituras, discussão de casos), espaços de lazer, convivência familiar e com amigos, ócio, etc....
Só podemos oferecer ao outro aquilo que podemos oferecer para nós mesmos, sendo assim só poderemos ser bons cuidadores, se pudermos buscar e receber cuidados, criando assim um ciclo virtuoso de crescimento e desenvolvimento para todos os atores envolvidos.
Retirado do site: http://www.apaesp.org.br/todospelosdireitos/cuidando.html
Movimento Social sem fronteiras, constituído por pais, mães e profissionais de várias instituições, com o objetivo de defender os direitos das pessoas com autismo e de seus familiares.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O Filho Idealizado e o Ideal Social – Do Luto à Luta ( Por Fausta Cristina)
Durante nove meses, dia após dia, a gestante sonha, respira e se alimenta de esperança. Uma nova vida se inicia e o filho que está sendo gerado, na grande maioria das vezes, é sinônimo de expectativa e projeto de uma pessoa bem-sucedida e feliz.
Nenhuma mãe concebe a ideia de que está gerando alguém que um dia será um viciado ou um marginal, ninguém deseja uma criança que apresente problemas de saúde, ou de caráter. No imaginário da mãe está o filho médico, artista, engenheiro, poliglota, aquele que vai se destacar pela inteligência acima da média, pela doçura, pela educação. Seu companheiro ou companheira, fonte de alegrias e orgulho.
Nesta época em que a mulher é toda emoção e a vida esperança, a notícia de que aquele sonho sonhado não irá se concretizar pode representar a abertura de um abismo escuro e a dor de abandonar o filho idealizado precisa ser compreendida em toda a sua dimensão. Os pais precisam de apoio neste momento para que possam se reestruturar internamente e seguir na semeadura do terreno de um futuro melhor para aquela criança.
O racional vai indicar o caminho, afinal quem pode garantir o futuro de alguém? Um filho pode mesmo ser capaz de satisfazer desejos que não são seus? É justo que uma criança já venha ao mundo tendo como obrigação a impossível tarefa que é fazer outra pessoa feliz? Se todo ser humano tem problemas e desafios a serem superados, uma criança com autismo, com deficiência, síndromes ou dificuldades terá também os seus.
Nesta fase, torna-se possível enxergar o horizonte para além do obstáculo e os pais mais uma vez se alimentam de esperança e iniciam a jornada da superação. É comum que estudem, leiam, se informem e se tornem verdadeiros especialistas da problemática que enfrentam. E para alguns destes obstinados pais, é necessário dar um passo a mais e dividir o que aprendem, democratizar o que conquistam para seus filhos, é preciso compartilhar.
E surgem as Associações de Pais, carregando também seus desafios. Reúnem-se pessoas traçando objetivos e missões, lutam pela obtenção de recursos, pela formalização e administração da entidade jurídica e as poucas horas destinadas antes ao descanso são empregadas nesta nova empreitada. O trabalho voluntário destes familiares, fomenta pesquisas, pressiona o poder público a implementar leis e atendimento, conquista reconhecimento e espaço na sociedade para a pessoa com deficiência.
Tenho tido a honra de conviver com pais que dão de si para mais que o bem-estar do próprio filho. Se dão assim, além da conta e de forma extraordinária, superam a dor e ampliam o próprio campo de batalha (ou plantio), corajosamente expõem suas vidas ainda mais a problemas de toda ordem. Não são simplesmente a borboleta vencendo a escuridão do casulo, são pássaros plenos de vontade de voar com asas fortes e uma determinação imbatível.
A todos eles, o meu afeto e minha gratidão por fazerem surgir em mim um sentimento de inexplicável dimensão: o orgulho de ser humano! Capaz de absorver, processar, superar e transformar dor em ação. Pela capacidade de compartilhar e de tornarem possível a mudança de um paradigma social baseado na exclusão.
Juntos, somos mais fortes!
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