"Excelentíssima Sra Presidenta Dilma Rousseft.
Esta é uma
mensagem despretenciosa, sem a intenção de lhe transmitir mais que o necessário
para que conheça a situação em que vive uma parcela de seu povo, o povo que a
elegeu e que em sua pessoa confia. Essa parcela conta com DOIS MILHÕES de
pessoas, são autistas, nossos autistas, nossos filhos. Aqui lhe escrevo com o
direito que a vida me concedeu, quando resolvi tomar nos ombros um pouco da dor
de minhas companheiras, as mães dos filhos que meu coração adotou. Percebi
Excelência, que o fardo é leve quando o dividimos com nossos pares e que ficamos
mais felizes quando assim procedemos. Creio que percebi o mesmo que Vossa
Excelência percebeu muitos anos atrás quando lutou contra a ditadura, quando se
aliou aos companheiros de ideal para melhorar a situação de uma nação. Sentiu na
pele a dor dos companheiros, e foi à luta sem temor e foi feliz mesmo sofrendo,
sabendo que lutava por um ideal e conquistava assim justiça para todos! Hoje eu
me dirijo à essa guerreira que chegou ao topo SEM PERDER A TERNURA, para que
olhe por nós, as mães azuis, mães que conservam a ternura com mescla de
esperança num futuro melhor para os filhos com autismo. Não pretendo aqui lhe
descrever o que é autismo pois tenho certeza que deve saber, apenas acrescento
que são destituídos de atendimento na rede pública e sequer tem o reconhecimento
de que são pessoas com deficiência. Não é crítica de forma alguma, apenas uma
questão de relatar brevemente do que se trata nossa luta. Nossos profissionais
no Brasil, em sua grande maioria ainda desconhece a síndrome e não sabe como
tratá-la. O diagnóstico precoce acaba vindo tardiamente e em grande parte dos
casos não vem jamais...Infelizmente nossos filhos não tem tempo, tem síndrome,
tem urgência de atendimento para desenvolver todo seu potencial e se tornar
produtuivo, ser feliz! Esses são os filhos que nos tiram o sono muitas vezes,
pelo amor que lhe consagramos, pela preocupação que temos quanto ao seu futuro
devido à situação de vulnerabilidade em que se encontram. Essa é a carta da
esperança, e eu deposito em suas mãos através de um amigo querido, companheiro
de causa que Deus colocou em seu caminho e no meu caminho para que entregasse
nessas mãos todo nosso sonho, toda nossa luta, todo nosso coração e sentimento.
Uma chefe de Estado que faz o plano VIVER SEM LIMITES por certo não vai ignorar
nossa situação, porque nossos filhos Excelência, vivem ainda limitados, pela
falta de tratamento, pela ausência de pesquisa nessa área, pela falta de atuação
do poder público em suas vidas. Com a união de pais conseguimos avançar com um
Projeto de Lei, 168/11 que se encontra agora no Senado, em fase final de
aprovação. Esse Projeto cria a Política Nacional de Proteção aos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Esse Projeto tem trazido esperança à
muitas famílias e em torno dele se formou um exército de famílias com o objetivo
de vê-lo aprovado, sancionado e posteriormente implementado. Hoje entregamos em
suas mãos essa missão, a de dar um final feliz nessa história árdua e difícil
porém linda que é a história das crianças autistas no Brasil. Nossos filhos
serão sempre crianças pois são destituídos de malícia, ironia e maldade. São
ingênuos e totalmente vulneráveis, não importando a idade. Nós confiamos agora
na mulher que conquistou o coração dos brasileiros com pulso firme mas sorriso
no rosto. Confiamos na mãe que se emociona com crianças especiais, por entender
como toda mãe, a necessidade dos cuidados especiais que esses filhos
precisam...Nossos filhos Excelência, precisam também VIVER SEM LIMITES, ter
igualdades de oportunidades e nesse momento só a ternura do coração da grande
mãe do Brasil poderá salvá-los. Eu não exagero, poderá constatar isso brevemente
se tentar se inteirar da situação real dos autistas severos, muito
comprometidos. Não pretendo entristecê-la com as histórias tristes que habitam o
recôndito das casas humildes onde o autismo cresce sem nada que venha balsamizar
suas dores. Prefiro confiar em seu sempre presente bom senso, usando a razão e
emoção na dose certa no momento certo. Somos na grande maioria mulheres, onde do
lar o pai se evadiu diante do grave problema do autismo, deixando-nos sós com um
ser tão especial requerendo tantos cuidados. Junto com essa carta e esse Projeto
de Lei lhe entregamos uma parte de nossa vida, nossa história, nosso futuro.
Confiamos em sua sábia decisão e oramos à Deus!
Atenciosamente
Berenice Piana de Piana - Mãe de Dayan, 18
anos, autista."
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